invenção da realidade

Comecei a ler Ribamar, novo romance de José Castello. É incrível como tenho perseguido essas narrativas feitas a partir da “verdade”, de uma verdade confessada pelo narrador, que usa propositalmente seu próprio nome, o nome de seu pai, de seu filho. Recupera uma memória despedaçada pelo tempo, puída pelos traumas.

Não quero entrar no mérito desses grandes limites da humanidade. A vida estetizada é arte, não confissão apenas. Mas toda confissão, por ser reorganizada narrativamente, não seria também uma espécie de estetização da memória?

Não terminei ainda a leitura. Mas me lembro enquanto leio do Filho eterno, do Tezza. Acho que são ambos os romances corajosos num aspecto muito semelhante. Não apenas porque, conhecendo Cristovão como professor na faculdade, foi terrível ler na voz do narrador (que era ele) que se tranquilizava em saber que seu filho down (que se chama Filipe e quem já vi pelos corredores da reitoria) morreria cedo, da mesma maneira que o Castello (ou o narrador que o imita) assume que o corpo moribundo se seu pai o enojava.

Não é só porque acreditei, com a ingenuidade de espectadora, na ficção da realidade, na ilusão da primeira pessoa, nas informações dos prefácios e entrevistas. Mas é porque se não foi, poderia ser.

E falamos aqui de sentimentos inconfessáveis.

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